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Os Elos da Corrente: Instrutor, Professor e Técnico/Treinador

Frederico Manica

Os Elos da Corrente apresentam a estrutura formativa da Cultura Skateboard: o Instrutor, que ensina o fazer; o Professor, que organiza o saber; e o Técnico/Treinador, que lapida o talento em busca de resultados competitivos.

NOTA EDITORIAL
Este documento integra o conteúdo de referência do Curso de Instrutores da ABC do Skate Brasil, servindo como texto-base de estudo, reflexão ética e fundamentação técnica para os módulos de formação profissional.
Seu propósito é orientar, inspirar e consolidar os princípios que estruturam a Cultura Skateboard Educativa, contribuindo para o fortalecimento do ensino, da ética e da gestão da prática esportiva em todo o território nacional.


OS ELOS DA CORRENTE: INSTRUTOR, PROFESSOR E TÉCNICO/TREINADOR

INSTRUTOR — o primeiro contato, o olho e o ouvido do sistema
O Instrutor é o elo inicial da cadeia formativa.
É o profissional autorizado a orientar, demonstrar e conduzir práticas culturais, artísticas, físicas, esportivas e de lazer, desde que comprove capacitação técnica específica e supervisão adequada.
Sua função é operacional e demonstrativa, com foco no saber fazer — executar, aplicar e garantir a prática correta e segura.

Está mais próximo da comunidade, da iniciação, da base.
Ensina com segurança, observa comportamentos, corrige posturas e forma vínculos positivos com os alunos.
Um bom instrutor desenvolve a atenção gerencial — uma forma de atenção executiva aplicada ao ensino prático — para lidar com grupos heterogêneos: crianças, adolescentes, iniciantes, pessoas com medo, com limitações ou diferentes níveis de motivação.
Essa capacidade de gerenciar várias realidades simultâneas é o que permite que um só instrutor atenda muitos alunos com qualidade, adaptando-se ao ritmo de cada um sem perder o controle da turma.

Natureza do saber e da função
O termo instrutor, derivado do latim instruere (“equipar, preparar, construir”), expressa exatamente sua missão: preparar o aluno para agir corretamente.
Enquanto o professor estrutura o como ensinar, o instrutor domina o como fazer.

Essa distinção é reforçada por Libâneo (1994) e Paulo Freire (1996):
“O instrutor transmite procedimentos; o professor media sentidos.” — Libâneo, J. C. (Didática. São Paulo: Cortez, 1994).
“Ensinar exige respeito à autonomia do educando.” — Freire, P. (Pedagogia da Autonomia. São Paulo: Paz e Terra, 1996).

O instrutor de skate, portanto, é quem ensina fundamentos motores, gestos e gestuais, desenvolvendo o “30-30” (subir no skate, equilibrar-se, parar, impulsionar, entrar e sair da transição, ollie);
demonstra manobras e técnicas de forma segura e confortável;
realiza anamneses técnicas (levantamentos de histórico e capacidades do aluno);
avalia o desempenho e organiza turmas segundo divisões didático-pedagógicas;
elabora planos de treino e planos de aula técnicos, mantendo um plano de contingência atualizado;
acompanha a participação em competições de base e níveis intermediários;
corrige vícios posturais e assegura a integridade física e emocional dos alunos;
cria um ambiente lúdico, motivador e disciplinado, onde aprender é também pertencer.

Atenção Gerencial — a alma da prática instrutiva
A atenção gerencial, descrita por Posner & Petersen (1990) como parte do “sistema atencional executivo”, permite alternar focos, tomar decisões rápidas e coordenar ações complexas.
Em aulas práticas de skate, essa competência se manifesta quando o instrutor observa grupos em diferentes níveis de aprendizado, previne riscos, corrige erros, organiza o espaço e mantém o grupo engajado sem interromper a dinâmica.
É uma atenção móvel e sistêmica, essencial para quem trabalha com públicos diversos.
“A habilidade de coordenar múltiplas tarefas em tempo real é o núcleo da atenção executiva.” — Posner, M. & Petersen, S. (1990).

Campo de atuação e limites profissionais
O instrutor pode atuar em projetos sociais, clubes, academias, escolas e espaços públicos, com crianças, jovens, adultos e idosos, sempre sob observância de princípios éticos, segurança e respeito à diversidade humana.
Sua atuação deve restringir-se às atividades para as quais comprove capacitação específica, sendo vedado exercer funções de coordenação pedagógica.
Isso garante que o instrutor exerça com excelência sua função técnica, operacional e educativa de base.

Síntese ética e estrutural
O Instrutor é o guardião da porta de entrada do esporte e da cultura do movimento.
Sua missão é acolher, ensinar, cuidar e inspirar.
Não é um executor de ordens, mas o primeiro elo da corrente formativa, cujo trabalho impacta toda a cadeia — do aluno ao professor, e deste ao treinador.
“O instrutor é o alicerce invisível das práticas culturais, artísticas, físicas, esportivas e de lazer. É quem transforma curiosidade em hábito, medo em confiança e prática em pertencimento.” — Bento, J. (1999).


O PROFESSOR — O MEDIADOR E ARTICULADOR DO SABER
O Professor é o elo que transforma a técnica em conhecimento.
Se o instrutor ensina o fazer, o professor ensina o entender o que se faz e por que se faz.
Sua atuação conecta a prática ao pensamento, a vivência à reflexão, o gesto à intenção.
Ele é o mediador entre o campo técnico e o pedagógico, organizando os processos de ensino para que o aprendizado seja duradouro e significativo.

Natureza do saber e da função
O termo professor vem de profiteri — “declarar publicamente um saber”.
Ser professor é assumir o compromisso público de educar, ampliando o alcance do conhecimento.
Enquanto o instrutor transmite a técnica, o professor planeja, organiza e avalia o ensino, dominando princípios de didática, psicologia da aprendizagem e pedagogia.
“Ensinar não é transferir conhecimento, mas criar as possibilidades para a sua própria produção.” — Paulo Freire (1996).

Atenção gerencial aplicada à docência
Enquanto o instrutor gerencia o grupo durante a prática, o professor gerencia sistemas de ensino e aprendizagem — planeja currículos, coordena equipes e assegura coerência entre metas, métodos e valores.
Seu campo de visão abrange toda a rede formativa: instrutores, famílias, gestores e comunidade.

Campo de atuação
Instituições de ensino, projetos de extensão, formação continuada e programas comunitários.
Seu papel é garantir que o ensino do esporte seja ético, inclusivo, significativo e contínuo.

Síntese ética e estrutural
O Professor é o elo reflexivo da corrente formativa — o que transforma experiência em conhecimento e prática em pedagogia.
“O professor é quem tece as pontes entre o corpo que aprende e a mente que compreende. É quem transforma o instante da aula em herança cultural.”


O TÉCNICO/TREINADOR — O ESTRATEGISTA DO RENDIMENTO E DA CARREIRA
O Técnico ou Treinador é o elo que conduz o atleta à excelência.
Planeja, dirige e avalia o processo de treinamento em todas as dimensões: física, técnica, tática, psicológica e ética.
Coordena equipes de apoio, define estratégias e acompanha o desenvolvimento do atleta, tendo como referência o rendimento esportivo e a longevidade da carreira.
“Treinar é preparar para o imprevisível com método e sensibilidade.” — Bompa, T. (2000).

Atenção gerencial aplicada ao rendimento
No alto rendimento, a atenção gerencial torna-se visão estratégica e analítica.
O treinador precisa coordenar variáveis fisiológicas, emocionais e ambientais, tomando decisões rápidas e éticas sob pressão.
Sua função exige transparência e honestidade: deve declarar seus objetivos competitivos e evitar interferir em processos formativos com interesses velados.

Campo de atuação
Equipes de base e rendimento, clubes, federações, confederações, comissões técnicas e projetos de desenvolvimento de talentos.
Seu foco é o desempenho com ética, respeitando a individualidade e os limites humanos.

Síntese ética e estrutural
O Técnico/Treinador é o elo estratégico — o que transforma talento em trajetória.
Sua missão é planejar com sabedoria, decidir com justiça e inspirar com exemplo.
“O treinador é o arquiteto da performance e o guardião da ética do resultado. Ele não busca apenas vitórias, mas coerência entre esforço, propósito e legado.”


IMPEDIMENTOS ÉTICOS E CONFLITOS DE INTERESSE
Todo profissional que exerça função de treinador, técnico, instrutor ou dirigente deve dar-se por impedido de arbitrar, interferir ou participar de qualquer processo decisório, avaliativo ou competitivo que possa direta ou indiretamente concorrer com seus próprios interesses ou com os interesses de seus atletas.
São considerados impedimentos éticos: a participação em arbitragens diretas ou indiretas, vínculos com patrocinadores, marcas, entidades ou empresas que possam obter vantagens indevidas, bem como qualquer envolvimento — mesmo que legal — com apostas, sorteios, prêmios ou promoções que possam comprometer a integridade esportiva.
O profissional deve abster-se de qualquer ação que possa influenciar, beneficiar ou privilegiar sua atuação, sua equipe ou seus representados, preservando a transparência, a confiança pública e a legitimidade do esporte.


CRÉDITOS
Este material é parte integrante do Material de Apoio do Curso de Instrutores – Módulo I e II da ABC do Skate Brasil e da Cinco Continentes Editora LTDA.
Autoria: Manica, Frederico Leal — 7ª Edição Revisada e Ampliada — Cadernos de Cultura Skateboard da Metodologia A — Biênio 2005/2006.
Reprodução autorizada exclusivamente para fins educacionais e institucionais.
© ABC do Skate Brasil / Cinco Continentes Editora LTDA — Todos os direitos reservados.

Tags: trabalho, educação, autodesenvolvimento, motivação, sabedoria, vida, ofício, formação, aprendizado, vocação, ética, crescimento, propósito